Que assunto! Ao ensejo da comemoração mundial do MÊS DAS MÃES, 2º domingo de Maio. Outono no Hemisfério Sul. Uma provocação à inteligência para o significado expresso no titulo. Em apenas três vocábulos, que ao procurar compreendê-lo, nos remete a um sério e conseqüente raciocínio acerca do seu possível conteúdo em resposta às perguntas – “o que, por que, para que e como” referente à subentendida classificação de “sagrado” e “feminino”proposto. Sujeito da questão: o humano. Gênero: feminino. Cenário: natureza, pelos rastos do seu quotidiano, através dos gestos e dos ritos do trabalho, da alimentação, do culto e da arte voltada à subsistência e organização social, da conciliação do útil e do belo, da relação com as divindades ou do dilema da (finitude) morte.
Na imprensa da semana finda acendeu o ‘alerta’ do químico francês LAVOISIER, Antoine (1743-1794) sobre a consistência do Universo na afirmação de que – “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. A contundência da asserção parece nos sugerir a importância da história pregressa na orientação construtiva dum futuro cada vez melhor. O segredo, quem sabe, do progresso evolutivo dependa da investidura do ‘caráter feminino’ na interação do humano com os elementos da natureza.
Desta misteriosa e incomensurável NATUREZA herdada sobressai a especificidade do HUMANO, que se prolonga, espiritualiza e perpetua através da copulação diferencial dos gêneros – masculino e feminino, evidenciáveis no seu próprio modo de Ser e Expressar, sempre e regularmente condicionado ao Espaço Temporal dado. De onde, a originalidade dos respectivos papéis. Ao homem, o de representante do Criador na manutenção e semeadura da espécie, no privilegiado terreno (útero) delegado a consorte feminina (mulher), compartilhando da saudabilidade dos descendentes. Destas ‘vertentes femininas’derivam preciosas e coerentes designações, que vão se mantendo nos idiomas em curso, tais como: Mater, Madre, Mama, Mulher, Fêmea ou simplesmenteMãe na língua portuguesa.
Mãe, nome da que é, foi ou continuará nas lembranças e feitos que nos ajudaram ser, crescer e chegar a este momento reflexivo. Ela, ao abrir-se à compartilha do gênero viril, torna-se geradora não somente dos filhos consangüíneos, mas de ‘quantos’ a fazem lembrada na sustentabilidade dos envolvimentos atitudinais benevolentes com o meio físico, animativo e relacional vigente. Por exemplo – da palavra MÃE, emerge a figura do afeto que naturalmente expressa. Não raro também usada para designar:
“Causa ou Origem de Algo” – generosidade na dispensa aos cuidados maternais
aos filhos ou necessitados, bem como em concepções do linguajar caseiro;
“Mãe Benta” – bolo de trigo com coco e ovos para deleite gustativo;
“Mãe D’Água” – da mitologia indígena, nascente de fontes, rios, reservatórios;
“Mãe de Família” – mãe de leite a quem necessite além dos próprios filhos;
“Mãe do Corpo” – útero da mulher;
“Mãe de Santo” – sacerdotisa responsável pelo culto aos Orixás;
“Mãe de Deus” – atribuído a Virgem Maria pelo filho Jesus Cristo; etç.
A luminosidade fortalecedora ou virtual do viés “feminino” repercute na apropriação de conceitos atribuíveis à espécie humana no dia-a-dia dos falantes tais como:
“Santo” – santo Deus, santa Ceia, santa Barbara, santo do Dia;
“Sacro” – sagrado, puro, profícuo;
“Sacrário” – local onde se guardam objetos sagrados, tabernáculo;
“Tabernáculo” – ventre da Mãe na geração do filho;
“Sagrar” – dedicar-se ao serviço de coisas divinas;
“Sagrado” – investido da dignidade para ministrar “sacramentos” do ‘se-dizente’
Filho de Deus, Jesus Cristo aos fiéis, também ditos “sinais na conquista
da salvação: Batismo, Eucaristia, Penitência, Matrimônio, Unção dos
Enfermos”;
“Idéia Mãe” – princípio gerador de obra material ou literária;
“Alma Mater” – a natureza como Princípio Criador.
“Salvar” – livrar de ruínas, perigos, males contra a vida, a honra, o vicio;
“Sacrificar” – dedicação às causas nobres, renunciar em favor de outrem,
sujeitar-se ao imponderável.
Ao finalizar, permito-me a leitura de poemas – Mãe e Razão do Amor de minha autoria. Desde já agradeço a atenção dispensada. Felicidades!
Mãe*
Misteriosa
fagueira
papeleira
matreira
Porta da vida
amostra do tudo
dona do nada
Branca
rosada
negra
morena
pé de boi
laranjeira
roda faceira
no seu quintal
Carvão em brasa
pão na mesa
de dia ativa
de noite cativa
brinca e chora
como a realeza
da mística aurora
* - DENDENA, Zélia Helena. Relâmpagos. Porto Alegre, UBE-RS, 2006.
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